Camboja – caminhando na sua reconstrução…

15.01.2017 • Camboja

Como dissociar o Camboja da Guerra do Vietnã? Quem viveu naquela época e acompanhou pelos veículos de comunicação, em especial pelo Jornal Nacional as chamadas do Cid Moreira, acaba estabelecendo uma relação direta  entre as ações intrépidas do Kmher Vermelho, movimento comunista e a resistência cambojiana numa guerra que durou mais de vinte anos.

É claro que a decisão de chegar ao Camboja se reveste de expectativa em ver um país que caminha para a sua reconstrução. Também em verificar bem de perto a influência exercida pelos comunistas na realidade local. O que fizeram de bom, e naquilo que deixaram a desejar!

Uma coisa é criar um modelo recebendo as notícias, outra bem diferente, é procurar compreender o que se passou no tempo recente e quais as lições extraídas, e pra onde caminha esse país que figura dentre os que mais crescem na atualidade.

É bem verdade que os russos e chineses fizeram muita força para implantar a sua ideologia entre os cambojanos, até tiveram um certo sucesso quando por cerca de dez anos os vietnamitas ocuparam e exploraram os cambojanos, implantando as comunidades coletivas que trabalhavam e produziam, especialmente produtos agrícolas e entregavam ao estado. Mesmo enfrentando dificuldades, miséria e fome, inclusive  entregando a vida por inanição, os camponeses dedicavam o melhor dos seus dias em produzir, produzir, produzir… e tudo entregar ao estado em favor do dito, bem comum.

Essa exploração levou a milhares de pessoas quedarem impávidas, servindo ao estado de então.

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Camboja – Sudeste da Ásia

Com uma área de 181.035 km2, Conta atualmente com uma população de 15,21 milhões de habitantes, 60% no meio rural  e um índice de analfabetismo em 26%, eis aí um grande desafio dos governantes.

Sua capital é Phnom Penh, o centro político, econômico e cultural.

Camboja é um estado monárquico constitucional, sendo o monarca o representante do estado e o primeiro ministro, é quem efetivamente administra e governa o país.

Em muitos quesitos o país deixa a desejar, enfrenta os desafios de uma população que cresceu muito nos últimos anos justamente para recuperar as múltiplas perdas da guerra.

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São muitos os templos que estampam imagens como esta

O budismo, como filosofia e prática religiosa, se sobressai, sendo a religião oficial, e, é praticada por 95% da população.

O país está entre os que mais cresce na Ásia, tem experimentado um crescimento seguido de 6% ao ano, claro que esses índices são alcançados porque se tem uma base econômica muito pequena.

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A jovem mãe vai ao trabalho com sua filha

O elevado número de crianças e jovens, cuja população até os 34 anos representa 60%, mostra bem, o rápido crescimento, mas também desafia as autoridades a enfrentar a elevada mortalidade infantil e o combate à doenças, como paralisia infantil, difteria, coqueluche,  e, outras causadas por verminoses e assim por diante…

A infraestrutura é ainda muito precária, parte considerável da população rural, não conta com energia elétrica, e quando a tem é de qualidade precária, mesmo o centro urbano, está sujeito a quedas constantes.

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Residência rural sob palafitas para evitar as cheias

Com um precário sistema habitacional, as pessoas que vivem no interior – meio rural-, vivem em casebres em condições de higiene que deixam à desejar. Banheiros, por exemplo é artigo de luxo. As necessidades fisiológicas são feitas ao ar livre, ou melhor, na mata livre! 65% dessa população não tem instalações sanitárias, por exemplo…

Com um per capita de US$ 1,103.00 e um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) Pnud-2015 de 0,555  considerado médio, há muito ainda a ser feito.

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Arroz a principal atividade agrícola

Tem como atividade principal a agricultura, esta é feita de maneira artesanal, e  com pouca tecnologia.

Construção civil, vestuário e turismo estão em alta, atraindo inclusive o capital externo.

 

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Turistas em visita ao templo Angkor Wat

O país recebeu em 2015 aproximadamente 5 milhões de turistas, atraídos pelas belezas naturais, e também pela mística  dos  inúmeros templos budistas e hinduístas espalhados em diferentes pontos do país, notadamente em Siem Riep.

Aliás Siem Riep é uma das maiores cidades do Camboja, com uma população de 1 milhão de habitantes, uma cidade caracterizada pelo crescimento rápido e desordenado, onde a confusão parece estar instalada.

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Siem Riep – trânsito que só eles entendem

Caminhar pelas ruas de Siem Riep é um desafio, com poucos sinais de trânsito, os motoristas, motociclistas, ciclistas e mesmo os pedestres acabam tendo códigos próprios e conseguem se entender bem, mesmo diante da confusão instalada.

Nós optamos em fazer um tour de bicicleta, foi uma aventura para sair da cidade as pessoas, os veículos as motos pareciam se movimentar em qualquer sentido, algumas na mão de direção, outras na contramão, e assim fomos nos encaixando naquele emaranhado estrada afora, mas deu certo.

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Christiane sempre à frente – abrindo caminho

Siem Riep figura dentre as cidades com maior atração aos turistas em razão da generosidade de lugares marcados pela história.

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Árvores, como esta, cresceram sobre os templos

As cidades antigas, mesmo que semi destruídas pelo tempo, mais de mil anos de esquecimento permitiu o crescimento de densa vegetação em seu entorno e até sobre ela mesma, onde árvores, hoje, centenárias cresceram e fincaram raízes sobre as estruturas de pedra.

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Angkor Wat – Cidade grande

A Angkor  que quer dizer big city – cidade grande, conta a história de várias dinastias que governaram a cidade.

O complexo conhecido como cidade, ou cidade pré-industrial conta com uma área superior 1000 quilômetros quadrados.

Essa cidade do século IX, era considerada o centro do universo.

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Lagos no Angkor Wat

Com engenhoso sistema construtivo, a cidade está cercada por água, imensos lagos artificiais.

Essa cidade foi concebida para intra-muros com quatro grandes portões,  cada portão  conta com um monumento, uma verdadeira fortaleza construída em pedra, e na sua parte mais alta, está a figura de um buda sorrindo em cada uma das paredes de modo que se tem em verdade, na mesma entrada quatro budas com a face voltada para cada um dos pontos cardeais.

Essas diferentes entradas contribuiam para a logística da cidade, assim, fornecedores/ comerciantes tinham que entrar por um determindado portão.

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Portão de acesso à cidade antiga

Cada uma dessas entradas tinha um significado bem definido:  O Victory gate (portão da vitória) era utilizado pelos soldados que tivessem vencido uma batalha, entretanto, se a batalha tivessem sido derrotados o portão de entrada era o dos fantasmas, ninguém, evidentemente desejava carregar a vergonha de ter de passar por esse portão, então davam o maximo para sagrarem-se vencedores e fazer juz a passagem pelo portão da vitória.

Na parte central dessa cidade está o Angkor Wat- templo budista construído no seculo XII em homenagem ao deus Hindú Vishnu um dos principais deuses do budismo, tendo levado 30 anos para ser construído, dada as suas dimensões até que foi um tempo curto.

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Angkor Wat – sede do templo budista

Esse monumento ocupa uma área 208 hectares, concebido em réplica para representar um modelo terrestre do mundo cósmico.

A torre central sobe do centro do monumento que simboliza a montanha mítica Meru (Himalaia),  por ser considerada o centro do universo.

Suas cinco torres correspondem aos picos de Meru.

A parede externa corresponde às montanhas na borda do mundo, e o fosso circunvizinho, os oceanos.

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“Tuc Tuc” – táxi – carreta tracionada por um motocicleta

O sistema de transporte público é caracterizado pela proliferação desordenada de “tuc tuc”, uma espécie de carroças tracionadas por motocicletas que transportam até três passageiros, estão em todos os lugares.

A cultura do arroz é a sua principal fonte econômica, servindo ao consumo interno e também à exportação. O arroz jasmim, além da tradição é o destaque entre os que produzem e também entre os que consomem.

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Arroz negro – uma cultura bem difundida

O arroz negro, destaque na culinária mais bem elaborada tem produção em larga escala.

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A camponesa pousa para uma foto com seus búfalos

Só para se ter ideia da rusticidade a mecanização é mínima e a tração animal, utilizando-se de búfalos é prática comum, aliás, é muito fácil encontrar os bubalinos, que servem tanto para o trabalho de campo quanto para a produção de leite e carne.

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Centro comercial da periferia

O comércio é um setor que avança a passos largos, mas a desorganização, para quem vê de fora é demais.

Camboja tem sido um país propício à terceirização da produção de grandes marcas de confecção, que se valem da oferta de mão de obra para alavancarem as suas produções. Marcas como: Armani, Gucci, Columbia… estão muito presentes na vida dos cambojanos, que acabam até colocando parte dessa produção no mercado paralelo, é muito fácil encontrá-las.

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Os meninos vendedores – para contribuir com a renda familiar

O trabalho infantil é tolerado, sob o argumento de que estão contribuindo com a renda familiar e pouco disposto à delinquência.

É comum ver as crianças acompanharem, às mães ao local de trabalho, onde se ocupam na venda de souvenirs, postais ou mesmo artigos do vestuário.

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As crianças ainda brincam de bola – como essas

Como o contato com os eletrônicos ainda é algo distante, ver crianças brincando, com bola, amarelinha é uma rotina.

A rusticidade está em todas as direções, seja no jeito simples das pessoas, na forma como se trajam, na singela instrução educacional, ou mesmo na rusticidade, contudo Camboja é um país que vai seguindo o curso da sua própria história e pelo que se vê, logo, logo alcançará bons e notáveis indicadores.

Ao mesmo tempo em que se toma um choque ao se deparar com a realidade local, por outro lado se vê que as pessoas estão em constante movimento, buscando o destaque tão necessário a serem vencedores. Não há no Camboja tempo ruim, tudo é motivo de seguirem adiante, e temos convicção, dado ao seu histórico vão superar as dificuldades e encontrarão o caminho do progresso.

Visitar o Camboja, foi uma oportunidade de ver um país em reconstrução, e que tem muito a conquistar, é um país que está na moda, vale a pena conhecer… pois, aqui vamos nós…

Siem Riep, 12 de novembro de 2016.

 

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